sábado, 3 de maio de 2008

tradução, uma arte


Superheroes

Caio Fernando Abreu


"ainda que dentro de mim as águas apodreçam e se encham de lama e ventos ocasionais depositem peixes mortos pelas margens e todos os avisos se façam presentes nas asas das borboletas e nas folhas dos plátanos que devem estar perdendo as folhas lá bem ao sul e ainda que você me sacuda e diga que me ama e que precisa de mim: ainda assim não sentirei o cheiro podre das águas e meus pés não se sujarão na lama e meus olhos não verão as carcaças entreabertas em vermes nas margens ainda assim eu matarei as borboletas e cuspirei nas folhas amareladas dos plátanos e afastarei você com o gesto mais duro que conseguir e direi duramente que seu amor não me toca nem comove e que sua precisão de mim não passa de fome e que você me devoraria como e devoraria você ah se ousássemos..."

O mais cosmopolita dos escritores gaúchos nasceu na pequena cidade de Santiago, em 1948, perto da Argentina.

Contista, romancista, dramaturgo, poeta e jornalista, prêmios Jabuti, em 1984 e 1989,Caio Fernando Abreu tornou-se o retrato 3x4 da classe média da última metade do século XX que correu o mundo, libertou-se dos condicionamentos e exaltou a vida com alta dose de erotismo e politização.

Caio foi hippie, beat e místico e, ao mesmo tempo, confessional e clássico. Transpirava rigor em sua literatura, um rigor espartano, de sacrifício monástico, e buscava em igual medida a comunicabilidade imediata. Temperou sua ficção intimista com referências pop e chamou o leitor para mais perto. As evocações de uma amizade, de uma música, de um poema e de um lugar abriam seus textos para a identificação emocional. Construiu personagens isolados no mundo e de temperamentos introvertidos, que entravam na maioria das vezes em conflito com a sociedade.

Experimentou um período, de um lado,repressor, na política, e, de outro, de liberação e efervescência, na vida cultural. Entre o regime militar e a tropicália, fez sua estréia com O Inventário do Irremediável (1970). Trazia em seus contos a negatividade do pensamento e a volúpia da ação. Porta-voz de uma tribo encantada e desencanada nos anos 60, que depois viria a ser desencantada e encanada nos 80. Tanto que o verdadeiro almanaque oitentista é Morangos Mofados. Participou do boom do conto, ao lado de Rubem Fonseca, Dalton Trevisan e Ignácio de Loyola Brandão. As narrativas breves gozavam de uma popularidade similar daquela das canções, tomavam as últimas páginas das revistas e a preferência do público, com cada vez menos folga para leituras alentadas.

Caio Fernando Abreu é a síntese do Pós-Modernidade. "Antecipou a fragmentação, que forma o discurso hoje nas artes plásticas e na literatura. Sua obra não propõe uma unidade, uma totalidade, o pedaço se sobrepõe ao todo. Caio fala dessa impossibilidade de se atingir o conjunto", afirma.





Para Luana

Tons

rósea
âmbar
índigo

Secret

Enter Sandman(1991) Metallica

"...Exit light,
Enter night.
Take my hand,
Off to never never land.
Now I lay me down to sleep,
Pray the lord my soul to keep.
If I die before I wake,
Pray the lord my soul to take.
Hush little baby, don't say a word,
And never mind that noise you heard.
It's just the beast under your bed,
In your closet, in your head.
Exit light,
Enter night.
Grain of sand.
Exit light,
Enter night.
Take my hand,
We're off to never never land."