

Uso estético de citações ou paródias à maneira já clássica do repertório pós-moderno
Contista, romancista, dramaturgo, poeta e jornalista, prêmios Jabuti, em 1984 e 1989,Caio Fernando Abreu tornou-se o retrato 3x4 da classe média da última metade do século XX que correu o mundo, libertou-se dos condicionamentos e exaltou a vida com alta dose de erotismo e politização.
Caio foi hippie, beat e místico e, ao mesmo tempo, confessional e clássico. Transpirava rigor em sua literatura, um rigor espartano, de sacrifício monástico, e buscava em igual medida a comunicabilidade imediata. Temperou sua ficção intimista com referências pop e chamou o leitor para mais perto. As evocações de uma amizade, de uma música, de um poema e de um lugar abriam seus textos para a identificação emocional. Construiu personagens isolados no mundo e de temperamentos introvertidos, que entravam na maioria das vezes em conflito com a sociedade.
Experimentou um período, de um lado,repressor, na política, e, de outro, de liberação e efervescência, na vida cultural. Entre o regime militar e a tropicália, fez sua estréia com O Inventário do Irremediável (1970). Trazia em seus contos a negatividade do pensamento e a volúpia da ação. Porta-voz de uma tribo encantada e desencanada nos anos 60, que depois viria a ser desencantada e encanada nos 80. Tanto que o verdadeiro almanaque oitentista é Morangos Mofados. Participou do boom do conto, ao lado de Rubem Fonseca, Dalton Trevisan e Ignácio de Loyola Brandão. As narrativas breves gozavam de uma popularidade similar daquela das canções, tomavam as últimas páginas das revistas e a preferência do público, com cada vez menos folga para leituras alentadas.
Caio Fernando Abreu é a síntese do Pós-Modernidade. "Antecipou a fragmentação, que forma o discurso hoje nas artes plásticas e na literatura. Sua obra não propõe uma unidade, uma totalidade, o pedaço se sobrepõe ao todo. Caio fala dessa impossibilidade de se atingir o conjunto", afirma.